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O valor cultural da Capoeira no Brasil

by Thaís Melo

Texto: Thaís Melo

A capoeira é um esporte e também uma expressão cultural afro-brasileira. Misturando artes marciais, dança e música ela foi criada no Brasil pelos africanos que foram trazidos para o país e por seus descendentes no período da escravidão. Ela foi criada pela necessidade de se defender dos abusos sofridos, mas com o tempo se tornou também uma forma de resistência e de esperança.

As pessoas escravizadas eram proibidas de praticar qualquer tipo de luta, por isso eles foram colocando dança e música no meio para enganar os feitores e continuarem praticando e treinando para sua autodefesa. Atualmente os povos africanos não são mais escravizados, mas a capoeira permaneceu e além de um esporte, segue viva como um símbolo.

A capoeira chegou a ser proibida pela lei no Brasil de 1890 a 1937. Mas é claro, que os descendentes de um povo que sofreu tanto pela sua liberdade não deixaria essa representação tão genuína de esperança no meio da dor se perder. Ela sempre esteve presente no país e faz parte da nossa história. Em 2014 a capoeira foi declarada como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Nada mais justo levando em consideração tudo o que ela representa.

Um dos responsáveis por manter vivo esse esporte e ajudar a difundi-lo no período em que ele estava proibido foi Vicente Ferreira Pastinha. Conhecido como “Mestre Pastinha” ele foi um mestre de capoeira e também um filósofo popular. O mestre nasceu em 1889 na Bahia, filho de um espanhol e uma brasileira, ele conheceu a capoeira aos 10 anos de idade por meio de Benedito, um africano que se tornou o seu mestre de capoeira.

Desde que conheceu a capoeira ele se encantou e não parou mais de praticar. Já mais velho ele ficou anos na Marinha e mesmo lá seguia com suas práticas e ainda ensinava a capoeira para os seus companheiros de ofício. Aos 21 anos ele saiu da corporação e decidiu dar aulas de capoeira, mas como nessa época tal prática estava proibida ele teve que fazer isso às escondidas.

Quando as penalidades aplicadas aos praticantes da capoeira ficaram ainda mais rígidas ele parou por um período com as aulas e trabalhou em outras atividades, como pintor, pedreiro, entregador de jornais dentre outras coisas. Esse período durou de 1913 a 1934, até que um dia um ex-aluno dele o convidou para uma roda de capoeira e quando ele já estava lá o aluno lhe disse que ele seria o mestre.

Isso acordou a paixão pela capoeira que Pastinha havia se obrigado a deixar adormecida dentro de si. A essa altura a lei que tornava a capoeira um crime já não existia mais. Com isso, ele decidiu fundar o Centro Esportivo Capoeira Angola (CECA), o centro foi a primeira escola de capoeira angola do país. Mais do que somente a capoeira o mestre também ensinava valores aos seus alunos.

Pastinha chegou a visitar a África em 1966 para participar do Primeiro Festival Mundial das Artes Negras que aconteceu no Senegal. Mesmo com toda a importância de seu trabalho para a cultura brasileira ele foi despejado do casarão onde morava e tinha o seu centro. Isso devido ao processo de gentrificação que o pelourinho sofreu. Como já estava com a saúde debilitada, após esse descaso do governo o mestre entrou em depressão e isso piorou ainda mais sua saúde.

Sem ter a quem recorrer, ele morreu em um abrigo para idosos em 1981 aos 92 anos de idade. Na época de sua morte ele já estava cego e com baixa movimentação. Um triste fim para um homem que teve uma contribuição tão importante para a história da capoeira no país.

Mas é fundamental que mais do que manter a capoeira viva, temos que manter vivas também as memórias de pessoas como o Mestre Pastinha que lutaram e resistiram para que a capoeira ganhasse a força que ganhou e deixasse de ser marginalizada pela sociedade. Graças a ele e a tantos outros hoje ela é uma parte importante da nossa cultura pela qual somos reconhecidos internacionalmente.

 

 

 

 

 

 

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