As bandas cabaçais também chamadas de “Banda de Couro” são grupos musicais com sonoridades típicas que misturam influências africanas e indígenas. Embora tais bandas possam ser encontradas em outras regiões, o lugar que mantém essa tradição mais forte é o Cariri. Esse tipo de banda se originou com os escravos africanos, já a influência indígena vem por meio de alguns instrumentos utilizados como os pífanos. Mas o povo do Cariri passou a dar uma identidade própria para a sonoridade das bandas cabaçais.
Algumas bandas cabaçais já são tradicionais e tem décadas de existência, a paixão pela música vai passando de geração para geração. Os elementos principais que compõe a sonoridade dessas bandas são a zabumba, o pífaro, o pífano e uma caixa. Além da sonoridade bem regional e característica, as bandas também tem como marca seus membros usando roupas chamativas e festivas.
O ritmo aproxima-se de um baião, bem comum no Cariri e também tem elementos carnavalescos. As apresentações desse tipo de grupo geralmente ocorrem em festividades culturais, religiosas ou de caráter artístico.
A banda mais famosa é a “Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto” localizada no Crato, o grupo centenário foi fundado em 1815, por um descendente dos cariris chamado José Lourenço da Silva. José era conhecido como Aniceto e de seu apelido veio o nome da banda. O grupo já virou tradição de família e vem sido mantido pelos filhos, netos e bisnetos de Aniceto.
A relevância da banda é tanta que em 2007 ela foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural e não parou por aí, pois em 2015 ela foi declarada como Patrimônio Imemorial de Cultura de Crato, além de mais algumas honrarias que o grupo já recebeu durante todo esse tempo de existência. Além dos instrumentos base já citados aqui, a banda também utiliza instrumentos de sopro e pratos. Mais do que apenas tocar os instrumentos a banda realiza toda uma performance e encanta a todos por onde passa.
A banda se inspira na realidade do dia a dia dos trabalhadores da região para compor suas canções. O conjunto já chegou a gravar quatro álbuns e fez parcerias com grandes nomes da música nacional como Luiz Gonzaga e Hermeto Paschoal. E se engana quem pensa que essa sonoridade fica restrita ao público cearense. A banda já chegou a se apresentar em diversos países da Europa.
A história da banda também já foi contata em forma de documentário. A série documental “Visceral Brasil – As Veias Abertas da Música“ tem um episódio intitulado “Raiz Ancestral” que é todo dedicado a mostrar a trajetória do grupo.
Embora essa seja a banda mais famosa, não é a única a manter essa tradição musical viva. O documentário “Bombo ou Taboca” mostra as bandas cabaçais do Cariri em geral e não apenas a dos Irmãos Aniceto.
O nome “Banda Cabaçal” vem de um de uma matéria prima utilizada para fazer instrumentos de percussão à cabaça. Além desse nome essas bandas também costumam ser chamadas de “Banda de Couro”, “Banda de Pífano” e “Esquenta Mulher”. As bandas são compostas por homens de todas as idades e sempre apostam mais no som dos instrumentos do que na voz que é pouco usada nas apresentações. Além disso, as bandas fazem uma verdadeira dança ao usarem e abusarem de movimentos corporais durante as apresentações que costumam ocorrer em locais abertos. Cada banda cabaçal tem características próprias, mas todas acabam tendo esses pontos em comum.
Outras bandas cabaçais bem conhecidas no Ceará são a “Banda Cabaçal da Serra da Boa vista” que já tem mais de 80 anos de existência e a “Banda Cabaçal Santa Edwiges” que se diferencia das demais por também aceitar mulheres. Sendo mais tradicional como a banda dos Irmãos Aniceto ou buscando inovar como a banda Santa Edwiges todos esses grupos tem em comum o amor pela música e por manter viva essa tradição.