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Como a inteligência artificial vem impactando a produção artística no Brasil e no mundo

Ilustrações de livros, capas de álbuns, aberturas de séries dentre outras formas de arte vem sendo geradas por Inteligência Artificial e causando polêmicas no meio artístico

by Thaís Melo

A Inteligência Artificial (IA) vem ganhando cada vez mais espaço em nossas vidas e pode sim, nos ajudar e facilitar as nossas vidas em diversos sentidos. Mas nos últimos tempos muito tem se debatido a respeito do uso de IAs no meio artístico e como isso pode acabar tirando o trabalho de artistas de diversos meios.

Em dois de maio desse ano o sindicado dos roteiristas de Hollywood intitulado Writers Guild of America (WGA) entrou em greve e dentre as suas reinvindicações e preocupações está justamente o receio de que os roteiristas percam seus trabalhos em breve para Inteligências Artificiais capazes de criarem roteiros. Como tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil ainda não existem leis para regulamentar o uso de IAs e o uso de máquinas e computadores ao invés de pessoas, por vezes é mais rápido e mais barato para realizar os mais diversos tipos de arte e também de trabalhos não artísticos o uso dessas inteligências, por isso essa é uma preocupação cada vez mais pertinente e presente.

Não apenas os roteiristas veem um futuro incerto devido ao uso de Inteligência Artificial, mas também os atores. Em julho desse ano o Screen Actors Guild (SAG-Aftra) também entrou em greve e dentre suas reinvindicações os atores também colocaram a regulamentação do uso de IAs nas produções, isso porque atualmente já é possível colocar um ator em tela mesmo que ele não tenha atuado de verdade. As Inteligências Artificiais tem se tornado cada vez mais realistas e os estúdios podem se aproveitar disso para cortar gastos com figurantes, por exemplo.

Já na propaganda, recentemente um comercial da Volkswagen com a cantora Maria Rita e sua mãe que também era cantora e já faleceu em 1982, Elis Regina foi ao ar e dividiu opiniões. Muitos acharam a propaganda inovadora e emocionante, já outros acharam uma falta de respeito já que como Elis Regina já está morta não autorizou o uso de sua imagem que foi gerada por Inteligência Artificial. Muitos artistas provavelmente devem começar a colocar em seus testamentos se autorizam o uso de suas imagens criadas por IA após as suas mortes ou não.

Outro uso de IA recente foi na abertura da série “Invasão Secreta” (2023) da Marvel lançada na plataforma de streaming Disney+. Nesse caso a polêmica não foi tão grande assim, mas é fato que pessoas poderiam ter sido contratadas para criar a animação da abertura ao invés do uso de uma IA. Atualmente para o uso de Inteligência Artificial é necessário que uma pessoa com noções artísticas e de programação esteja por trás do projeto para guiar o trabalho da Inteligência Artificial, mas ainda assim o número de pessoas necessárias para essa função é bem menor do que se a abertura fosse feita apenas por pessoas sem o uso de IAs.

O álbum novo intitulado “Escândalo Íntimo” da cantora Luísa Sonza teve a arte de sua capa e contra-capa feita pela artista Olga Fedorova que também usa IA na criação de suas obras. É claro que mesmo com o uso de inteligência artificial a artista precisa de conhecimento artístico e técnico para alcançar o resultado obtido. O ponto debatido nesse caso foi que a IA pode ter utilizado o trabalho de outros artistas como base para atender aos comandos e gerar o resultado final.

Até no meio editorial a IA vem causando polêmica. Recentemente a Editora Novo Século anunciou uma edição de luxo das renomadas obras “Alice no país das maravilhas” e “Alice através do espelho”. A edição reúne as duas histórias que já se encontram em domínio público, então não foi necessário pagar para poder usá-las. Mas o problema que causou revolta no meio literário foi que a editora usou IA para fazer a arte da capa e a arte dos brindes. Novamente uma pessoa com conhecimento técnico precisa configurar a IA para conseguir o resultado esperado, mas ainda assim os gastos com a edição foram bem menores do que se eles tivessem contratado um ilustrador para fazer as artes.

Em um post em suas redes sociais a editora se pronunciou após a polêmica falando que usar IA é uma forma de inovação e de romper barreiras. Parte do texto dizia: “A disruptividade, abordada na obra de Lewis Carroll, é recorrente em toda a história da arte. A arte muda constantemente, se reinventa, é mutável, volátil e, também por isso, incomoda. A arte existe para incomodar. A disruptividade, abordada na obra de Lewis Carroll, é recorrente em toda a história da arte. A arte muda constantemente, se reinventa, é mutável, volátil e, também por isso, incomoda. A arte existe para incomodar.” Em momento algum antes da polêmica a editora havia informado sobre o uso de IA e a comunidade literária não aceitou muito bem a justificativa dada pela Novo Século.

Como deu para notar cada vez mais a IA se faz presente nos mais diversos tipos de arte e vem preocupando os artistas de carne e osso que por muitas vezes já tem seus trabalhos desvalorizados e agora tem mais essa preocupação. É importante que não apenas nos Estados Unidos e no Brasil, mas no mundo inteiro sejam criadas leis regulamentando e definindo o uso adequado para essas IAs. Afinal, é ótimo termos ferramentas que facilitem nosso dia a dia e ajudem artistas, mas ajudar é bem diferente de eliminar empregos. Coisa que infelizmente pode ocorrer com o avanço das IAs caso não haja uma regulamentação adequada.

 

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